sexta-feira, 25 de abril de 2008

25ABR2008

25ABR2008 Trinta e quatro anos passaram sobre a vitoriosa insubordinação do 25 de Abril. Pelo caminho ficaram milhões de mortos. Atolados nesta lama de sangue os gloriosos militares vencedores ainda agora blasonam o seu glorioso feito. É a estupidez a tentar justificar a covardia. É tempo de fazer as contas e de avaliar os desgostos.

O orgulho maior do abrilismo é a "descolonização". Fartos de andarem com a casa às costas, de serem cornos e de se passearem pelos quatro cantos do mundo a defenderem Portugal, os abrilinos resolveram acabar com a guerra para regressarem a penates. Aproveitando-se da fraqueza de Marcelo Caetano, da torpeza de Costa Gomes e da estupidez vaidosa de Spínola organizaram-se celularmente. Numa manhã chuviscosa tomaram conta do poder. Entregaram-no a um epiléptico compensado, coronel de engenharia, chamado Vasco Gonçalves e, num ápice, desfizeram uma obra de cinco séculos. Um misto de loucura furiosa e de ignorância política emporcalhou repulsivamente toda uma gesta heróica, antiga, moderna e contemporânea. É difícil encontrar outro povo que, em tão pouco tempo, tenha sido de tal forma enxovalhado e menorizado.

Como se tal não bastasse inverteu-se deliberadamente o sentido histórico da nossa política externa, tradicionalmente virada para o Mar, para a revirar para a Europa. Perdeu-se capacidade de defesa — e perdeu-se soberania. Portugal é hoje apenas uma província da Europa inteiramente dependente dela por intercessão da Espanha. Numa situação de guerra continental ficaremos bloqueados. Perdido o Ultramar, integrados nas comunidades, limitados aos interesses estratégicos de Bruxelas, deixámos de ser um Estado independente, sem agricultura que preste, sem indústria que nos valha, sem nada que nos defenda.

Segundo António José Saraiva o 25 de Abril foi a maior derrota de Portugal depois de Alcácer Quibir. Tal como em 1578, perdemo-nos em África e por causa de África, com a diferença moral e catastrófica de não termos morrido na fuga, um exército inteiro retirando em debandada coberto de opróbio e borrado de medo.

Trinta e quatro anos volvidos aguardamos aviltantemente o fim — a não ser que, num momento de revolta e de vergonha consigamos libertarmo-nos das quadrilhas que nos sugam o sangue e a alma. Discutir tudo o que está, desde as fronteiras geográficas às formas políticas do sistema, é o que nos sobra de esperança. A todo o instante é possível recomeçar Portugal, não cedendo um milímetro daquilo que sempre foi português.

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