sábado, 11 de agosto de 2007

Em Setúbal, espera-se 13 meses por uma operação


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Um doente de Lisboa com cancro da próstata tem uma espera provável de 3,1 meses para ser chamado para uma operação considerada urgente. No IPO de Coimbra, a mediana (o valor mais provável de espera) é de 2,3 meses, pouco acima dos 2,2 meses do IPO do Porto. A mesma operação sobe para 4,3 meses no Garcia de Orta (Almada). Já em Setúbal, uma cirurgia a um cancro do cólon e recto é feita em oito meses e, no caso do cancro da cabeça e pescoço, dispara para 13,1 meses. Em Viseu, a mesma intervenção demora sete meses. Números que resultam do cálculo da mediana dos doentes inscritos em cada unidade. O que significa que a espera máxima a que um doente está sujeito é sempre superior.

Nas doenças oncológicas, o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, apresenta tempos de quatro meses para o colón e recto e cinco meses para outras neoplasias. O S. João, no Porto, mais de um mês para uma operação a um cancro da cabeça e pescoço.

Pela primeira vez, o Ministério da Saúde divulga os dados das listas de espera por patologia e por hospital numa lista a que o DN teve acesso e que estará disponível no site da tutela (www.portaldasaude.pt). Os números, explica o coordenador do Sistema de Gestão de Inscritos em Cirurgia (SIGIC), Pedro Gomes, são aqueles que os hospitais enviaram e serão agora alvo de análise.

Nas tabelas, há valores que são, no mínimo, preocupantes, mas que Pedro Gomes explica serem provavelmente erros de registo, ou pela decisão médica de não dar prioridade. "Num hospital com um número baixo de casos, um erro pode inflacionar os valores. Por exemplo, se um doente com cancro piora e é operado nas urgências, pode não ser dada baixa do caso e ele manter-se na lista, o que faz logo disparar a mediana de espera. Só quando há uma casuística razoável podemos ter uma ideia mais exacta". Esta poderá ser a explicação, por exemplo, para os 11 doentes a aguardar no Hospital de Cascais por uma operação a cancros na região abdominopélvica terem uma mediana de espera de 23,3 meses.

"A ser verdade, este panorama é aterrador. Os hospitais centrais e os IPO têm um problema com as listas de espera. E há hospitais mais pequenos com melhores desempenhos. A situação tem que ser resolvida rapidamente, aproveitando os recursos existentes todo o Pais", comenta Jorge Espírito-Santo, presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos.

Mesmo assim, os números globais de todas as cirurgias mostram uma recuperação da lista. Em Junho, estavam inscritos 208,6 mil doentes, menos trinta mil que no ano anterior. A espera nacional por uma operação é de cinco meses. Mas continuam a existir 42 mil pessoas que aguardam há mais de um ano para serem chamadas, 20% do total. Em 2005 eram, no entanto, quase o dobro - 37%. Os hospitais privados e sociais com convenções - são eles que atendem os doentes que recebem vales-cirurgia - têm assumido um papel importante nesta recuperação. E já realizaram 13,6 mil operações, quando no primeiro semestre de 2006 se ficaram apenas pelas quatro mil. Uma subida de 340%, que revela um ritmo bem superior ao dos hospitais públicos, onde se passou de 177 mil cirurgias em Junho de 2006 para 182 mil no mesmo mês deste ano - mais 3%. Destas, 26 mil foram feitas em ambulatório (não necessitaram de internamento).

Nos privados com acordos com o Estado, o hospital que mais operações realizou foi o da Ordem Terceira, em Lisboa, com mais de 1700 intervenções desde 2005, seguido pelo SANFIL, em Coimbra.

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