quinta-feira, 30 de agosto de 2007

José Pinto-Coelho, líder do Partido Nacional Renovador, em entrevista.




O espaço ermo e exíguo das escadas faz prever uma sede ainda em construção. Em primeiro plano, a bandeira nacional, enquadrada pela mesa de reuniões. Nas paredes, cartazes propagandísticos.

As garrafas de cerveja vazias, ao fundo, na mesa da cozinha, sugerem o calor da familiaridade da reunião da noite anterior.
É na sede do Partido Nacional Renovador que encontramos José Pinto-Coelho, seu fundador e actual líder. Inspirado em Salazar, Primo de Rivera e Mussolini, propõe um nacionalismo híbrido, à medida de um Portugal corrompido pelos políticos de hoje. Fala de si, do seu partido e da chama nacionalista.
A conversa começa antes de o sol se pôr.

O que é hoje o Partido Nacional Renovador?
O PNR não é aquilo que era há uns anos. É o único partido vincada e assumidamente nacionalista que há em Portugal. É um partido que pretende ser uma pedrada no charco e que pretende enfrentar um sistema que está podre, caduco e viciado.
Os governantes estão a perverter a política; estão a fazer muito mal ao povo (no sentido lato e não socialista da palavra); hoje em dia governam-se em vez de governarem e servem-se em vez de servirem. O PNR pretende modificar esse modo de estar na política.
O PNR é, no fundo, um partido minúsculo a todos os níveis, nomeadamente ao nível de meios: não temos subvenção estatal nem máquina partidária. O PNR é um partido amador.
Em suma, o PNR é um partido nacionalista que o afirma categoricamente; é um partido pequeno com a perfeita consciência de que vai ser grande e é um partido que, pelas suas características, é amado por alguns e odiado por muitos.

O rótulo de extrema-direita serve ao PNR?
É, como disse, um rótulo. Os rótulos são sempre muito difíceis de se colocar. Em rigor, o nacionalismo não é nem de direita, nem de esquerda. Direita e esquerda são uma dicotomia, acabam por ser redutores. O nacionalismo, na verdade, está para além da direita e da esquerda; não pretende ser um divisor mas um agregador. Como não podemos fugir aos rótulos, quando tivermos deputados, é evidente que se vão sentar na extrema-direita porque os nossos valores. Não de uma direita capitalista – que nós rejeitamos em absoluto –, mas de uma direita dos valores, da nação, da família; a direita que não é igualitária, porque reconhece as diferenças entre os homens – diferenças reais e não de dignidade; a direita desconfia da bondade do homem. Considero que o nacionalismo está para além da divergência.

A nação é uma espécie de prolongamento da família. E os imigrantes?
Tratamo-los bem. É uma situação semelhante à de habitar num prédio com várias pessoas: há espaços comuns mas há também espaços privados. Queremos dar-nos bem com os vizinhos. Os nacionalistas, ao contrário do que às vezes se julga, não odeiam o estrangeiro. Pelo contrário, nós temos um enorme respeito pelas outras nações, quaisquer que elas sejam.
Os emigrantes que estão cá, tratamo-los cá desde que aceitem bem o país que os acolhe.

Se o PNR governasse, que tipo de política de imigração teríamos?
A nossa política é tratar bem os que estão por bem – integrados – e correr com os que estão por mal. Integrar bem é não discriminar. Porque se eles estão cá em gethos ou se não têm emprego acabam por ser discriminados e portanto entregar bem que ter condições para que isso se faça e a política de integração irresponsável, de construir estádios e mandar vir emigrantes sem saber o que fazer depois com eles, não pode ser levada a cabo. É preciso que se anuncie, de forma organizada, nos outros países, que se irá necessitar, a termo, de um nível superior de mão-de-obra. Chega ao fim e não se pode garantir permanência. Quantos portugueses não fizeram isso lá fora? No Iraque, por exemplo, no tempo do Saddam, muitos portugueses iam para lá trabalhar imenso e depois voltavam. O que aconteceu com muitos portugueses em França e na Alemanha, etc?
Integrar é acolher quem tem lugar e dizer a quem não tem que só poderá ficar durante um período de tempo. Não podemos prometer-lhes um El Dorado depois chegam cá e o que ficam a fazer? Também eles estão no desemprego. E isso é integrar mal.

Qual é o papel dos jovens no nacionalismo português?
O futuro está nos jovens. Basta olhar para o activismo no nosso partido, 90% está abaixo dos 25 anos.
O papel da juventude é a questão de crescimento: a juventude nacionalista é absolutamente fundamental. Quando assumi a presidência do partido em 2005 criei a Juventude Nacionalista porque acho que tem que haver um enquadramento da juventude dentro do nacionalismo, para que os jovens desenvolvam trabalho no seu segmento próprio: a fazer propaganda nas escolas, numa linguagem jovem.
Esse papel é, portanto crucial, até para enquadrar os jovens. É evidente que todos os jovens têm uma grande tendência para experiências de rebeldia: a juventude é rebelde, tem paixão e tem crença, que é coisa que, infelizmente, os adultos não têm. A juventude precisa da crença porque tem por natureza paixão. A maior parte dos adultos começa a ficar descrente e a aburguesar-se. Acreditam no emprego, no dinheiro e no “salve-se quem puder!”.

Qual foi o ponto de viragem, em 2005, que permitiu ao PNR começar a crescer mais rapidamente?
Eu percebi que o nacionalismo estava a crescer, e muito, em Portugal e que era preciso através do partido (que era a única coisa que nós tínhamos) dar resposta a estas necessidades. Era para isso que o partido tinha sido feito. E então, num momento em que se sentiu que o partido ia desaparecer e que as pessoas começaram todas a dar à sola (os tais da Aliança Nacional), eu disse: não, alguém vai ter de se sacrificar para o bem ou para o mal e esse alguém tenho de ser eu. Porquê? Porque eu comecei por perceber na altura que eu era um elo de ligação entre as várias correntes. Dava-me bem com todos. Eu era perfeitamente capaz de estar à mesa com um salazarista, velhinho, católico, desses mais tradicionalistas, assim como era capaz de estar à mesa com o Mário Machado, líder da Frente Nacional. Eu dava-me com todos. Não conseguia era pô-los juntos.

Em várias entrevistas que o José Pinto-Coelho deu menciona essa questão do “sacrifício pessoal”. Considera-se uma espécie de “mártir” da causa nacionalista?
Eu acho que nunca vou conseguir dizer bem de mim. Mas fiz uma aposta, jurei a mim mesmo e jurei a todos os meus apoiantes e militantes, que estou aqui até ao fim. Haja o que houver. Por isso é que, se um dia tiver de levar um enxerto de porrada, levo. Se um dia tiver de levar um tiro, levo. Se um dia tiver de ser preso por delito de opinião, sou.

Em termos de financiamento, partidos nacionalistas estrangeiros têm conseguido assegurar subsistência. Como se explica isto?
Para alguns foi uma questão de sorte. O NPD, na Alemanha, tem um homem fabulosamente rico. O Le Pen recebeu uma fortuna colossal de um cidadão suíço que a quis deixar à Frente Nacional, logo no início. Imagine que agora um espanhol qualquer tinha uma paixão por Portugal e deixava uma quantia fabulosa ao PNR. Estávamos safos! São partidos que tiveram essa sorte. Nós não tivemos essa sorte, mas há-de chegar o dia, como aconteceu com o BE, em que vamos começar a receber subvenção estatal. Temos tanto direito quanto os outros, embora uma das nossas lutas seja combater o luxo com que se vive. Os partidos políticos são sustentados pelos impostos dos cidadãos e a quantia que recebem é exorbitante.

Falemos do futuro próximo: as autárquicas. O que é que o PNR pretende para estas eleições? E para Lisboa?
Crescer. Temos quatro ou cinco bandeiras fortes. É fundamental moralizar a gestão autárquica, assim como a gestão do país. Outro ponto importante é acabar com as empresas municipais que só servem para dar tachos aos amigos. É preciso avaliar da sua utilidade. A EMEL é para acabar na hora. É uma empresa para assaltar os lisboetas e os portugueses na caça à multa. Por outro lado, queremos disciplinar o trânsito caótico, resolver os assuntos que tenham que ver com os transportes em Lisboa. Pretendemos ainda reforçar o apoio ao comércio tradicional, que também está pela rua da amargura, e dar uma boa resposta à questão da segurança e criminalidade. A Polícia Municipal tem sido utilizada apenas para a caça à multa, mas tem de ser utilizada também no combate ao crime. Nós temos em Lisboa bairros como o Intendente que são bairros de “não-direito”. A polícia não entra lá. Trafica-se tudo quanto há e mais alguma coisa. As pessoas que lá moram são autênticas reféns nas suas próprias ruas.
Há muito por fazer em Lisboa a vários níveis, só não é feito porque o dinheiro está a ser mal gasto. Só gostava que se fizesse uma auditoria para saber o que se gasta em mordomias e tachos. Garanto-lhe: não aceito que uma câmara com um orçamento de mais de mil milhões de euros por ano, mais de dois milhões e 500 mil euros por dia, algo muito superior a muitos ministérios, não tenha dinheiro. A câmara não está falida, está é cheia de sanguessugas a roubar todos os dias os portugueses.


Parece-lhe que a via autárquica é o caminho a explorar pelo PNR, ou seja, pretendem iniciar o vosso caminho na política autárquica antes de partir para a nacional?
Acho que as eleições autárquicas para nós não são a solução porque são de longe as mais difíceis. Quando há eleições autárquicas, nem o PCP, nem o CDS, nem o BE conseguem cobrir o país todo. Só o PSD e o PS conseguem concorrer a todas as freguesias, a todas as assembleias municipais.
Para nós, o caminho mais fácil são claramente as legislativas de 2009. Temos de estabelecer os nossos pontos fortes, e um deles é a imigração. Cada vez mais, em surdina, os portugueses estão a sentir na pele os efeitos da imigração e estão cada vez mais connosco. Aliás, nós somos insuspeitos, porque há sondagens da Católica de há dois anos que diziam que 75% dos portugueses não querem mais imigrantes. Eles sentem isso, e muitos deles sentem que a imigração está associada ao aumento do crime, ao desemprego.

É em 2009 que o PNR chega ao Parlamento?
Eu espero que sim. Estamos a fazer tudo para que isso seja real, um sonho concretizado. Temos focado muito aquilo a que chamamos o “objectivo 2009”. Se conseguiremos ou não, isso são os portugueses que vão dizer na altura, mas tenho essa forte esperança. O PNR, passando para o conhecimento dos portugueses, tem condições para em 2009 obter pelo menos em Lisboa uns 22 a 25 mil votos, o que nos permitiria ter pelo menos um deputado. E acredito que a partir do dia em que tivermos um deputado, mais ninguém nos pára.

Sabemos que solicitou uma audiência ao Presidente da República. Já conseguiu?
Eu escrevi no nosso portal que ia solicitar, não disse que já tinha solicitado. E queria manter isto um pouco reservado, porque também não quero que o partido esteja em bicos dos pés. Se o presidente der a audiência, deu. Se não der, paciência. Mas ia aguardar mais um bocado, porque pedimos a audiência na semana passada. E não faço ideia sobre quais são os timings do PR.
Queremos falar de algum do ambiente que se vive hoje em Portugal e que ilustra a nossa indignação e apreensão perante o que se está a passar.

Já estabeleceu alguma vez contacto com o Governo?
Não, nem tem de haver. Com o Governo, não. Nem com nenhum dos partidos que lá estão dentro. A única coisa que estamos a pensar seriamente vir a fazer é estabelecer contacto com alguns partidos pequenos, que nem sequer têm nada que ver connosco, mas com os quais temos uma luta em comum: os interesses dos pequenos partidos. É atirar para trás das costas tudo o que seja ideologia e lutar pela alteração de situações como não sermos chamados a debates em campanhas eleitorais. É uma injustiça que afecta o PNR, o MRPP, o POUS e o PPM, por exemplo. Acho que os partidos pequenos deviam juntar-se e lutar pelos seus direitos. Não tem nada de mal estarmos ao lado de partidos de extrema-esquerda numa luta que é comum. Em relação aos outros, não. Dos outros quero é distância!

Qual é a mensagem que deixa aos nossos leitores?
Posso falar contra mim e contra a minha ideologia, mas acho que vale a pena acreditar em ideologias políticas, seja a minha, sejam outras. O que mais me choca nos dias de hoje é as pessoas estarem a perder as referências, a paixão, a crença. É viver-se dominado pela mentalidade capitalista que se entranha nas pessoas ao ponto de elas nem sequer darem por isso. Tenho um horror ao capitalismo mesmo por causa disso. Porque as pessoas vivem de interesses, vivem de objectivos muito básicos e primários. As coisas perverteram-se de tal maneira, que se vive muito mais atrás de aparências, atrás de confortos hedonistas e estamos a pôr de lado os grandes valores, sejam eles quais forem. Acho que é tão legítimo que uma pessoa lute pelo nacionalismo com todo o empenho como lute pelo comunismo com o mesmo empenho. Posso detestar os comunistas e serem meus inimigos mortais, mas admiro um comunista puro que luta pelo comunismo.

Fonte: o amador

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