quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Emigração portuguesa em polémico museu francês


Inauguração discreta gerou controvérsia O museu nacional da História da Imigração abriu ontem de forma discreta as portas ao público no Palácio da Porte Dorée em Paris, num momento em que a vida política francesa se encontra dominada pelo debate sobre a emigração. A abertura do museu, uma ideia de Lionel Jospin (PS) posteriormente incorporada ao programa político do anterior Presidente Chirac, fica marcada por uma "boa polémica", porque "significa muita publicidade", segundo declarações ao DN de Jacques Toubon, Presidente do Conselho de Orientação daquela instituição e antigo Ministro da Cultura.

Para a referida polémica terão contribuido dois factores: primeiro, cerca de oito académicos pediram a demissão da comissão instaladora do museu na Primavera passada, em sinal de protesto contra a instauração de um ministério da "imigração e da identidade nacional". Em segundo lugar, as declarações da secretária de estado da Política das Cidades, Fadela Amara (filha de imigrantes argelinos) incendiaram os media. Amara classificou de dégueulasse (repugnante) as actuais politícas governamentais de emigração, recusando a aceitar que a imigração "seja instrumentalizada" com fins políticos. Assim e apesar das tentativas de apaziguamento do porta-voz do partido no governo (UMP), a abertura do museu fez-se de forma discreta, o que levou a Liga dos Direitos do Homem e outras associações a apelar a uma "inauguração cidadã".

Polémicas à parte, o museu abriu as portas a um público diverso, onde franceses "tradicionais" se misturaram com franceses oriundos de todos os cantos do globo, entre magrebinos e africanos, portugueses e asiáticos. Cada uma das comunidades teve um lugar de acordo com a sua presença em França e a comunidade portuguesa não foi excepção.

Na entrada do museu diversos painéis explicam que a imigração não é um fenómeno novo em França e que os "estrangeiros sempre fizeram parte da construção da identidade nacional", explicou Toubon.

A força da comunidade portuguesa encontra-se presente desde o início da exposição, onde um esquema de diapositivos faz referência à chegada dos portugueses a Paris. Mas o museu não se fica pelas fotos. Uma entrevista a um emigrante português realizada pela France Inter em 1967, dá conta das preocupações deste em relação à educação. "Graças ao sistema de educação francês, os nossos filhos terão mais oportunidades. Se tivessem ficado em Portugal, ainda hoje seriam uns ignorantes como nós fomos". "Se acham que so nos preocupamos com bens materiais, vejam a diferença entre pais e filhos". O áudio é accessivel a todos os visitantes.

Recordações, malas, o primeiro contrato "de estrangeiro" de Batista de Matos nacido em 1946 em Alcandas e chegado a França em 1963. As fotografias que enviara ao seu pai e cartas que escrevera. Num dos sectores da exposição com o titulo "Au travail", o visitante fica a saber que "347.725 portugueses trabalhavam nas obras públicas francesas". Na secção "vida de cá, vida de lá", uma foto do grupo de ranchos dos Alto Minho, "elemento consolidante da identidade simbólica comunitária."

Fonte: DN

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