sexta-feira, 27 de julho de 2007
Um país, vários radares, duas velocidades
Que uma ambulância, bombeiros ou uma perseguição policial justifiquem a ultrapassagem de todos os limites de velocidade impostos ao comum dos condutores nas nossas cidades e estradas, ainda se compreende. E aceita. Agora que se estabeleça uma lista de isenções corporativas em uso normal de funções para uma série de veículos oficiais, indígenas ou estrangeiros, só porque sim, não é uma grande ideia. E não se justifica.
É sabido que o tráfego nas cidades deste país sofre as consequências de um fluxo demasiado febril em velocidade e condução. A instalação dos 21 radares estrategicamente polvilhados pela paisagem da capital produziu já dezenas de milhares de infractores. Imagine-se, pois, neste cenário o efeito junto do condutor reprimido da passagem veloz de um veículo oficial à velocidade que a personalidade sentada no banco de trás considere compatível com os seus superiores interesses.
Já assistíamos a cenas destas nas auto-estradas do País. Agora, em Lisboa, o espectáculo de um país a duas velocidades aprofunda a ideia de que "eles" continuam a fazer o que lhes apetece. Noção tanto mais inaceitável quanto a pressa no topo do Estado vai desacelerando à medida que vamos descendo na hierarquia para desaguar na lentidão exasperante dos serviços de atendimento.
Raúl Castro ofereceu-se ontem para dialogar com o próximo Presidente dos EUA. Sem condições. Em resposta, Washington ridicularizou a proposta, recomendando que o regime dialogasse com a sua população.
Descontando a retórica para consumo próprio, tanto do regime cubano como da Administração norte-americana, Washington faz mal em desprezar alguns sinais que Cuba tem vindo a dar. Até prova em contrário, Cuba parece ter dado início ao processo de transição pós-Fidel Castro e tudo indica que o líder histórico já não voltará ao poder. Razões mais do que suficientes para iniciar o diálogo. Aliás, como a União Europeia está a fazer.
É certo que Cuba não deixou de ser uma ditadura e que os cubanos não serão mais livres com Raúl do que eram com Fidel.
Mas é por isso que o diálogo com o regime comunista de Havana pode ser a melhor garantia de uma transição pacífica para a democracia em Cuba.
Dissidentes e opositores ao regime, tanto os que vivem em Cuba como os do exílio, já se entenderam entre si, criando uma plataforma conjunta. Os EUA deviam fazer o mesmo. Deixando, por exemplo, cair a aposta num bloqueio que há muito só serve de álibi para o regime cubano. |
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